quinta-feira, 8 de março de 2012

Eu, o Veríssimo e o BBB.

Eu, apesar de admirar o intelecto de Veríssimo e ser leitor contumaz de tudo que escreve, acho que nessa historia de BBB ele está errado, ou equivocado, já que se trata de um poeta, e dos bons. Não que eu veja BBB ou qualquer outro programa de televisão, seja ele qual for. Não acredito que você precisa comer bosta para saber que o gosto não é lá muito salutar. Cada povo tem o governo que merece. Isso, o BBB, nada mais é do que o resultado de atitudes de um povo sem nenhuma cultura, a culpa não é da rede globo. Isso é como politica meu amigo, se você estive lá ia fazer a mesma coisa. Se você mostrar documentários e programas educativos na televisão brasileira, quem vai ver? Nosso povo, desde os primórdios não foram educados pra isso. O povo gosta mesmo é de merda, assim como foi no inicio. Ou você não se lembra de como foi “inventada” nossa pátria amada!  Assim como libidinosos e devassos gostam que urinem em suas caras, o povo brasileiro gosta que lhe joguem merda. Quanto mais merda melhor. O povo gosta mesmo é de novelas, de notícias sobre famosos, de Latino, de Eliana, de Domingo Legal, de Faustão, de Adriana Galisteu, de Ratinho, de BBB e de Datena. Quanto mais merda lhe jogarem na cara, melhor. É o apogeu a libidinagem, a falcatrua e a total falta de bom senso.

Veja o que acontece no governo e você vai entender o que quero dizer, ninguém está ai pra absolutamente nada. E como a rede globo não é besta, põe no ar deliberadamente programas como esses. E estão certíssimos, os resultados do Ibope provam isso. Concordo, Bial é um cara superinteligente e escreveu várias crônicas sobre várias coisas, mas quem leu? Ninguém, e nem vão ler. Ninguém nem imagina que ele escreve coisa alguma. O povo quer é vídeo, quer ver, ouvir e assistir. Pensar!? Nem pensar. Isso é mais ou menos assim: se você não quer fazer comida em casa, vá a uma lanchonete, se não quer pensar, ligue a TV. Se o povo pensar ele não vota em governos, ela não anda pelas ruas, ele não trabalha, vira o caos. Mas temos medo de caos, de revolução, temos medo de qualquer coisa que nos tire dessa mesmice deliciosa e delirante que é ficar em frente a uma TV comendo pipoca.

Da mesma forma que governos permitem que existam drogas em cadeias para que o sistema funcione, ele permite, legaliza e banaliza o conteúdo da televisão pra que o povo durma. Se não houvesse drogas nas cadeias não haveria cadeias, do mesmo modo que se não houvesse TV não poderia haver governo corrupto. Isso é um ópio, o povo tem que estar dormindo. E a televisão foi idealizada com esse intuito, a de fazer o povo não pensar. Como você pode pensar por conta própria se está na frente de uma caixa?

E já que essa caixa faz com você o que ela bem entende, os caras que mandam na caixa mandam em você em todos os sentidos, muito simples. O sujeito bate no peito e diz que é livre. Quanta ignorância há nesse pensamento. Um homem livre é aquele que tem senso crítico, o que pensa por conta própria, o que se questiona. Como você pode pensar se você vive na frente de uma caixa quadrada que lhe dita modas, costumes, dogmas e conceitos!  Você nem sequer dorme se ela estiver desligada. Você não é mais você, você não pensa por você, você se tornou escravo da caixa, você é a caixa e vive como a caixa. Você come, bebe, faz, se veste, pensa, e vai onde a caixa lhe mandar. Isso é comparado à religião islâmica e de tantas outras, onde os caras se matam por causa de alá. Daqui uns dias se qualquer cara do BBB ou um personagem de novelas ou mesmo Faustão lhe disser que você precisa pular de alguns prédios porque é moda, eu não me surpreenderia com os resultados.

Um parêntesis: Outro dia presenciei uma cena hilária, tinha que estar com a câmera. Parei numa dessas panificadoras onde também servem refeições e fiquei no balcão tomando um trem. Na posição que eu estava dava pra ter uma visão de todos que entravam, saiam e que ali se alimentavam no restaurante. Numa das paredes principais do restaurante, uma Tela de sei lá quantas polegadas, só sei que o bicho era grande e cabeludo. Até ai, nada de anormal, o fato é que ela estava ligada, e pior, passando novela, pior ainda, pessoas assistindo. Lembro-me de uma época em que saiamos de casa pra nos distrair, conversar e fugir do marasmo. Hoje o sujeito vai ao restaurante e come assistindo a televisão. Se o garçom traz merda ele come. Ninguém pronuncia uma única palavra, a não ser: aumenta um pouco o volume, por favor. Chegam em silêncio e saem calados. Todos, sem exceção estavam jantando e olhando avidamente a televisão. Homens, mulheres e crianças, famílias inteiras, e até um cachorro olhando diretamente pra tevê, comendo alguma coisa, claro. Com um zoom mais próximo pude perceber que algumas pessoas erravam a boca ao tentar comer, posto que seus olhos estavam em outra direção. Num dado momento, percebi que também o garçom, disfarçadamente e às vezes, parava e olhava por instantes pra aquela caixa de merda.

Por isso a existência de programas como o BBB, eles são imprescindíveis. A televisão manda você votar numa Dilma da qual você nunca viu antes, apareceu do nada, e mesmo assim você assiste a comícios, discute sobre o assunto, briga pela mesma, enfrenta filas e vota na infeliz. Não passa pela sua cabeça questionar sobre o fato de vivermos numa pseudodemocracia e perguntar (Porra, de onde apareceu essa Dilma?), não, você não pergunta isso, alias você nada pergunta e nada questiona, você é um robô. A televisão lhe mandou votar na Dilma e mesmo você não sabendo nada sobre isso você vota e já elvis.

Mas você faz coisas piores do que a televisão lhe manda, você apenas não sabe disso.E esse é o objetivo da caixa, manter você totalmente débil, anestesiado, quieto e dócil como um bebê. E não é só o BBB que faz sucesso, isso não é monopólio deles. Há os que acreditam que programas como o de Detena é jornalístico, e que o mesmo é jornalista. É uma besta falando a milhões de outras. Outro dia eu estava tomando umas num butiquim e comentaram numa roda que cidadão foi assaltar um banco e que deu um tiro no próprio pé. Eu disse que não tinha visto isso. Dai um sujeito me disse porra, mas logo você que trabalha com internet não está ligado nesses fatos, e acrescentou ele: isso saiu em rede nacional. Rede nacional pra ele é sair em noticiários como o de Datena e Jornal Nacional. Isso é estar antenado pra esse retrógrado abestalhado ululante.

O conteúdo da televisão faz com que o sujeito acorde cedo, bata um cartão com seus horários de labuta, chegue no butiquim a tarde pra tomar umas (antes das novelas, claro) e comente o que ele viu ontem no Datena. E pior, isso faz dele o maioral, qualquer pessoa fora desse contexto ou é vagabundo ou está louco ou é bandido. A vida dele, o mundinho dele se resume a isso apenas. Bial está certo Veríssimo, infelizmente. Não se pode falar de uma coisa da qual você sabe que não vão entender. Isso é até falta de educação. Eu, outro dia vivi essa experiência no mesmo butiquim do retrógrado. Comecei a comentar com um amigo sobre coisas de internet, da camada de ozônio, de onde viemos e pra onde vamos, essas coisas. Quase fui morto e degolado, chegou um camarada e disse com o dedo em riste e em alto e bom tom o que já era esperado: porra, vocês estão me tirando rapaz! Vamos falar de futebol, de coisas que sabemos, coisas que entendemos. Ou seja, da vida dos outros ou de preferencia, novelas, Datena e BBB. 

Antes do fim, não do texto, do poço, quero fazer aqui outro parêntesis apocalíptico: Chegará um dia em que em programas de Faustão e em outros haverá jogos como os que fazíamos quando garotos aos 12 anos. A prova da ejaculação a distancia. Isso mesmo, o camarada (um herói, como diz Bial) se masturba e na ejaculação ele tem que caprichar pra que o esguicho  atinja a maior distancia possível. Quem ejacular mais longe leva o prêmio, e tudo isso ao vivo, claro. Porque como diz Faustão, quem faz melhor faz ao vivo, qualquer merda assim. Não preciso aguçar a imaginação do amigo para pensar como seria a logística e as circunstancias de provas como essas. Você já pode imaginar.. você na sua casa, com sua família, pais, avós, mães e cachorros (como hoje) e um programa desses no ar. Na verdade e infelizmente, não estamos muito longe disso. BBB já ultrapassa isso em algumas cenas. Se hoje não podemos assistir, segundo Veríssimo, o BBB junto de crianças, não se preocupe, a coisa pode piorar em breve.

A televisão, essa fábrica de imbecis, já conseguiu o que tanto almejava e nisso Veríssimo tem razão: Fez com que chegássemos ao fundo do poço. Nada mais há pra ser criado além da banalidade, da vulgaridade e da promiscuidade. Qualquer zé mané que chegue e coloque qualquer palavrão em qualquer batida e chama isso de musica, logo isso vira hit e parada de sucesso em todas as rádios, programas de televisão e internet. Palavrões como: (vai se fu.. desculpe, tenho vergonha de dizer) ou ainda (ops, essa também não posso), são passado e fora de moda. Mas a televisão adora isso. O governo adora isso. O sistema adora isso. O povo então nem se fala. Artista de verdade daqui pra frente vai ser aquele que criar algo tipo com palavrão novo entende, e de preferencia com uma letra que diga a mesma coisa sempre e com a mesma batida idem, claro. Senão tem que pensar, daí fica difícil. Lembro-me de Chico e Caetano indo embora por causa da ditadura em suas letras maravilhosas e vejo as letras que colocam nas melodias de hoje e, como dizia Zé Geraldo em “Cidadão”, da vontade de beber. Mas acho que até pra isso eu preciso, ou me adaptar no butiquim que frequento ou procurar outros, em outros continentes, claro.

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